Igor Afonso de Souza Azevedo Nº: 12
Pedro Lunardi de Abreu Nº: 28
José Flávio Belloni Nº: 16
Thiago Pereira Nº: 33
O Iluminismo
O iluminismo foi um movimento intelectual e filosófico
surgido na segunda metade do século XVIII, o chamado "século das
luzes". Enfatizava a Razão e a Ciência como formas de explicar o Universo.
Foi um dos movimentos impulsionadores do capitalismo e da sociedade moderna.
Foi muito dinâmico nos países protestantes e lento, porém com gradual
influência, na maioria dos países católicos.
A Sociologia é uma ciência que estuda o comportamento
humano e os meios de comunicação em função do meio e os processos que
interligam o indivíduo em associações, grupos e instituições. Enquanto o
indivíduo na sua singularidade é estudado pela Psicologia, a Sociologia estuda
os fenômenos que ocorrem quando vários indivíduos se encontram em grupos de
tamanhos diversos, e interagem no seu interior.
Tanto a sociologia quanto o iluminismo usam da razão.
Tanto que John Lock foi um iluminista e um grande sociólogo.
A filosofia social dos séculos XVII e XVIII
O pensamento
da Ilustração, apoiado principalmente na contribuição dos fisiocratas (escola
econômica da época), defendia a idéia de que a economia regida por leis
naturais de oferta e procura que tendiam a estabelecer, de maneira mais
eficiente do que os decretos reais, o melhor preço, o melhor produto melhor
contrato, pela livre concorrência. Além desse apreço pelo livre curso das
relações econômicas, os fisiocratas, opondo-se ao uso ocioso que a nobreza
fazia de suas propriedades agrárias, propunham melhor aproveitamento da
agricultura, atividade que consideravam a principal fonte de riqueza das
nações.
Segundo esse ponto de vista, as relações
econômicas e sociais eram, regidas por leis físicas e naturais que funcionariam
de maneira racional, desde que não prejudicadas pela intervenção do Estado
absolutista. O controle das relações humanas surgia, portanto, da própria
dinâmica da vida econômica e social, dotada de uma racionalidade intrínseca,
cuja descoberta era a principal meta dos estudos científicos. A racionalidade
estava na origem natural e física das leis de organização humana e na base da
própria atividade humana e do conhecimento, tal como defendiam os pensadores
franceses Renê Descartes e Denis Diderot. O racionalismo cartesiano - termo
derivado de Cartesius, nome latino de Descartes - se expressava pela frase
"penso, logo existo", na qual mostrava que a razão era a essência do
ser humano.
Reconhecia-se no homem, portanto, a capacidade de
pensar e escolher, resolver sem que leis rígidas perturbassem sua conduta. No
plano econômico essa idéia se traduzia na ânsia por liberdade de ação,
empreendimento e contratação. Traduzia-se ainda na concepção de que as relações
entre os homens resultariam na livre contraposição de vontades, na liberdade
contratual. No plano político, expressava-se no objetivo de livre escolha dos
governantes segundo o ideal de um Estado representativo da vontade popular.
Finalmente, no plano social, manifestava-se na noção de que as sociedades se
baseavam em acordos mútuos entre os indivíduos que as compunham.
Um dos pensadores que mais desenvolveu essa idéia
de um pacto social originário foi Jean-Jacques Rousseau. Em sua obra Contrato
social, Rousseau afirmava que a base da sociedade estava no interesse comum
pela vida social, no consentimento unânime dos homens em renunciar as suas
vontades particulares em favor de toda a comunidade.
Para alicerçar suas idéias a respeito da
legitimidade do Estado a serviço dos interesses comuns e dos direitos naturais
do homem, Rousseau procurou traçar a trajetória da humanidade a partir do
igualitarismo primitivo até a sociedade diferenciada. Para ele, a origem dessa
diferenciação estava no aparecimento da propriedade privada. Justamente por
essa crítica à propriedade, distingue-se dos demais filósofos da Ilustração.
John Locke, pensador inglês, também defendeu a
idéia de que a sociedade resultava da livre associação entre indivíduos dotados
de razão e vontade. Para Locke, essa contratação estabelecia, entre outras
coisas, as formas de poder, as garantias de liberdade individual e o respeito à
propriedade. Seus princípios deveriam ser redigidos sob a forma de uma
constituição.
Entre os filósofos da Ilustração, ganhava adeptos
a idéia de que toda matéria tinha uma origem natural, não-divina, e que todo
processo vital não era senão o movimento dessa matéria, obedecendo a leis
naturais. Esses princípios guiavam o conhecimento racional da sociedade, na
busca das leis naturais da organização social.
Podemos afirmar que a filosofia social da
Ilustração levaria à descoberta das bases materiais das relações sociais.
Percebe-se claramente que os filósofos dessa época já desenvolviam a
consciência da diferença entre, indivíduo e coletividade. Já percebiam que esta
possuía regras próprias que regulavam a vida coletiva, como as regras naturais
regiam o surgimento, o desenvolvimento e as relações entre as espécies. Mas,
presos ainda à idéia de indivíduos, esses filósofos entendiam a vida coletiva
como a fusão de individualidades. O comportamento social decorreria da
manifestação explícita das vontades individuais.
Adam Smith: o nascimento da ciência econômica:
Foi Adam
Smith, considerado fundador da ciência econômica, quem demonstrou que a análise
científica podia ir além do que era expressamente manifesto nas vontades
individuais. Em sua análise sobre a riqueza das nações descobriu no trabalho,
ou seja, na produtividade, a grande fonte de riqueza. Não era somente a
agricultura, como queriam os fisiocratas, a principal fonte de bens; mas o
trabalho capaz de transformar matéria bruta em produtos com valor de mercado.
Veremos adiante como essa idéia será retomada e reelaborada no século XIX por
Karl Marx.
Adam Smith revelara a importância do trabalho ao
pensar a sociedade não como um conjunto abstrato de indivíduos dotados de
vontade e liberdade.
Legitimidade e liberalismo:
As teorias
sociais da Ilustração no século XVIII foram ainda o início do pensar científico
sobre a sociedade. Tiveram o poder de orientar a ação política e lançar as
bases do que viria a ser o Estado capitalista, desenvolvido no século XIX,
constitucional e democrático. Lançaram também as bases para o movimento
político pela legitimação do poder, fosse de caráter monárquico, como na
Revolução Gloriosa da Inglaterra, fosse de caráter republicano, como na
Revolução Francesa, ou ainda do tipo ditatorial, como no império napoleônico.
Tão importante quanto seu valor como forma de entendimento da vida social e
política foi sua repercussão prática na sociedade.
A filosofia social desse período teve, em relação
à renascentista, a vantagem de não constituir apenas uma crítica social baseada
no que a sociedade poderia idealmente vir a ser, mas de criar projetos
concretos de realização política para a sociedade burguesa emergente.
A idéia de Estado como uma entidade cuja
legitimidade se baseia na pretensa representatividade da sociedade é um avanço
em relação à idéia de Monarquia absoluta. O Estado já não é a pessoa que
governa, mas uma instituição abstrata com relações precisas com a coletividade.
Além da circulação de leis e de riquezas, o Estado criava o princípio da circulação
de poder. O confronto de interesses também está subjacente às idéias propostas
pelos políticos iluministas.
As idéias de Locke e de Montesquieu, outro
importante pensador da Ilustração, foram a base da Constituição norte-americana
de 1787. Ambos pregaram a divisão do Estado em três poderes: legislativo,
incumbido da elaboração e da discussão das leis; executivo, encarregado da
execução das leis, tendo em vista a proteção dos direitos naturais à liberdade,
à igualdade e à propriedade; e judiciário, responsável pela fiscalização à
observância das leis que asseguravam os direitos individuais e seus limites.
Essa divisão estabelecia a distribuição das tarefas governamentais e a mútua
fiscalização entre os poderes do Estado. Locke defendia, ainda, a idéia de que
a origem do poder não estava nos privilégios da tradição, da herança ou da
concessão divina, mas no contrato expresso pela livre manifestação das vontades
individuais.
O cientificismo e organicisrno:
A primeira
corrente teórica sistematizada de pensamento sociológico foi o positivismo, a
primeira a definir precisamente o objeto, a estabelecer conceitos e uma
metodologia de investigação. Além disso o positivismo, ao definir a
especificidade do estudo científico da sociedade, conseguiu distinguir-se de
outras ciências estabelecendo um espaço próprio à ciência da sociedade. Seu
primeiro representante e principal sistematizador foi o pensador francês
Auguste Comte.
O positivismo derivou do
"cientificismo", isto é, da crença no poder exclusivo e absoluto da
razão humana em conhecer a realidade e traduzi-Ia sob a forma de leis naturais.
Essas leis seriam a base da regulamentação da vida do homem, da natureza como
um todo e do próprio universo. Seu conhecimento pretendia substituir as
explicações teológicas, filosóficas e de senso comum por meio das quais o homem
explicava a realidade.
O positivismo reconhecia que os princípios
reguladores do mundo físico e do mundo social diferiam quanto à sua essência:
os primeiros diziam respeito a acontecimentos exteriores aos homens; os outros,
a questões humanas. Entretanto, a crença na origem natural de ambos teve o
poder de aproximá-los. Além disso, a rápida evolução dos conhecimentos das
ciências naturais - física, química, biologia - e o visível sucesso de suas descobertas
no incremento da produção material e no controle das forças da natureza
atraíram os primeiros cientistas sociais para o seu método de investigação.
Essa tentativa de derivar as ciências sociais das ciências físicas é patente
nas obras dos primeiros estudiosos da realidade social. O próprio Comte deu
inicialmente o nome de "física social" às suas análises da sociedade,
antes de criar o termo sociologia.
Essa filosofia social positivista se inspirava no
método de investigação das ciências da natureza, assim como procurava
identificar na vida social as mesmas relações e princípios com os quais os
cientistas explicavam a vida natural. A própria sociedade foi concebida como um
organismo constituído de partes integradas e coesas que funcionavam harmoniosamente,
segundo um modelo físico ou mecânico. Por isso o positivismo foi chamado também
de organicismo.
Podemos apontar, portanto, como primeiro princípio
teórico dessa escola a tentativa de constituir seu objeto, pautar seus métodos
e elaborar seus conceitos à luz das ciências naturais, procurando dessa maneira
chegar à mesma objetividade e ao mesmo êxito nas formas de controle sobre os
fenômenos estudados.
É importante
situar o desenvolvimento do pensamento positivista no contexto histórico do
século XIX.
A expansão da Revolução Industrial pela Europa,
obtida pelas revoluções burguesas que atingiram todos os países europeus até
1870, trouxe consigo a destruição da velha ordem feudal e a consolidação da
nova sociedade - a capitalista -, estruturada sobre a indústria. Já no final do
século, a livre concorrência, que era a regra geral de funcionamento da
sociedade capitalista européia, passa por profundas transformações com a
crescente substituição da concorrência entre inúmeros produtores de cada ramo
industrial por uma concorrência limitada a um pequeno número de produtores de
cada ramo. Surgia a época dos monopólios e dos oligopólios, que, associados ao
capital dos grandes bancos, dão origem ao capital financeiro. Esta
reestruturação do capitalismo estava associada às sucessivas crises de
superprodução na Europa, que traziam consigo a morte de milhares de pequenas
indústrias e negócios, para dar espaço apenas às maiores e mais estruturadas
indústrias. Estas, por sua vez, tiveram de se unir ao capital bancário para
sustentar e financiar sua própria expansão. Crescer para fora dos limites da
Europa era, portanto, a única saída para garantir a continuidade dessas
indústrias.
Da mesma forma, o capital financeiro necessitava
de novos mercados para poder crescer, pois era perigoso continuar investindo na
indústria européia sem causar novas e mais profundas crises de superprodução.
Desencadeava-se, assim, a corrida para a conquista de impérios além-mar; os
alvos eram a África e a Ásia. Nesses continentes podia-se obter matéria-prima
bruta a baixíssimo custo, bem como mão-de-obra barata; eram também pequenos
mercados consumidores, bem como locais ideais para investimentos em obras de
infra-estrutura. Porém, a exploração eficaz dessas novas colônias encontrava
resistência nas estruturas sociais e produtivas vigentes nesses continentes
que, de forma alguma, atendiam às necessidades do capitalismo europeu.
A Europa deparou com civilizações organizadas sob
princípios tais como o politeísmo, a poligamia, formas de poder tradicionais,
castas sociais sem qualquer tipo de mobilidade, economia agrária de
subsistência, em sua grande maioria, ou voltada para um pequeno comércio local
e artesanato doméstico. Assim, o europeu teve primeiro de organizar, sob novos
moldes, as nações que conquistava, estruturando-as segundo os princípios que
regiam o capitalismo. De outra forma seria impossível racionalizar a exploração
da matéria-prima e da mão-de-obra, de modo a permitir o consumo de produtos
industrializados europeus e a aplicação rentável dos capitais excedentes na
Europa, nesses territórios.
Transformar esse mundo conquistado em colônias que
se submetessem aos valores capitalistas requeria uma empresa de grande
envergadura, pois dessa transformação dependiam a expansão e a sobrevivência do
capitalismo industrial. Assim a conquista, a dominação e a transformação da
África e da Ásia pela Europa precisavam apresentar uma justificativa que
ultrapassasse os interesses econômicos imediatos. Isso explica o fato de a conquista
européia estar revestida de um manto humanitário que ocultava a violência da
ação colonizadora. Assim, a conquista e a dominação foram transformadas em
"missão civilizadora". Países como Inglaterra, França, Holanda,
Alemanha, Itália se apoderavam de regiões do mundo cujo modo de vida era
totalmente diferente do capitalismo europeu. A "civilização" era
oferecida, mesmo contra a vontade dos dominados, como forma de
"elevar" essas nações do seu estado primitivo a um nível mais desenvolvido.
A atuação dos europeus sobre os demais continentes
foi intensa, no sentido de transformar suas formas tradicionais de vida e neles
introduzir os valores do colonizador. Como foi dito, essa nova forma de
colonialismo se assentava na justificativa de que a Europa tinha, diante dessas
sociedades, a obrigação moral de civilizá-las, de retirá-las do atraso em que
viviam. Nesse sentido, entendia-se que o ápice da humanidade - o mais alto grau
de civilização a que o homem poderia chegar - seria a sociedade industrial
européia do século XIX.
Em consonância com essa forma de pensar
desenvolveram-se as idéias do cientista inglês Charles Darwin a respeito da
evolução biológica das espécies animais. Para Darwin, as diversas espécies de
seres vivos se transformam continuamente com a finalidade de se aperfeiçoar e
garantir a sobrevivência. Em conseqüência, os organismos tendem a se adaptar
cada vez melhor ao ambiente, criando formas mais complexas e avançadas de
existência, que possibilitam, pela competição natural, a sobrevivência dos
seres mais aptos e evoluídos.
Tais idéias, transpostas para a análise da
sociedade, resultaram no darwinismo social, isto é, o princípio de que as
sociedades se modificam e se desenvolvem num mesmo sentido e que tais
transformações representariam sempre a passagem de um estágio inferior para
outro superior, em que o organismo social se mostraria mais evoluído, mais
adaptado e mais complexo. Esse tipo de mudança garantiria a sobrevivência dos
organismos - sociedades e indivíduos - mais fortes e mais evoluídos.
Os principais cientistas sociais positivistas,
combinando as concepções organicistas e evolucionistas inspiradas na
perspectiva de Darwin, entendiam que as sociedades tradicionais encontradas na
África, na Ásia, na América e na Oceania não eram senão "fósseis
vivos", exemplares de estágios anteriores, "primitivos", do
passado da humanidade. Assim, as sociedades mais simples e de tecnologia menos
avançada deveriam evoluir em direção a níveis de maior complexidade e progresso
na escala da evolução social, até atingir o "topo": a sociedade
industrial européia. Porém essa explicação aparentemente "científica"
para justificar a intervenção européia nesses continentes era, por sua vez,
incapaz de explicar o que ocorria na própria Europa. Lá, os frutos do progresso
não eram igualmente distribuídos.
Uma visão crítica do darwinismo social - ontem e hoje
Essa
transposição de conceitos físicos e biológicos para o estudo das sociedades e
das relações entre essas trouxe, ao darwinismo social, desvios importantes. O fundamento
do conceito de espécie em Darwin dificilmente pode ser transposto para o estudo
das diferentes sociedades e etnias.
Se o homem constitui sociologicamente uma espécie,
o mesmo não se pode dizer das diferentes culturas que ele desenvolveu. Além disso,
o caráter cultural da vida humana imprime, no desenvolvimento das suas formas
de vida, princípios diferentes daqueles existentes na natureza. Os princípios
da seleção natural são aplicáveis às espécies cujo comportamento é expressão
das leis imperativas da natureza.
Hoje, sente-se que a complexidade da cultura
humana tem concorrido para limitar a ação da lei de seleção natural. A
adaptabilidade do homem e a sua dependência cada vez menor em relação ao meio
têm transformado o ser humano numa espécie à qual a seleção natural se aplica
de maneira especial e relativa.
Essa transposição serviu entretanto como
justificativa de uma ação política e econômica que nem sequer avaliava
efetivamente aquilo que representaria o "mais forte" ou mais
evoluído.
Identificar a especificidade das regras que regem
as sociedades é fundamental para o uso de conceitos de outras ciências. Ainda
hoje se tenta essa transposição para justificar determinadas realidades
sociais. A regra darwinista da competição e da sobrevivência do mais forte é
aplicada às leis de mercado, principalmente pela doutrina do liberalismo
econômico.
Pressupõe-se que competitividade seja o princípio
natural - e portanto universal e exterior ao homem - que assegura a
sobrevivência do melhor, do mais forte e do mais adaptado.
Duas formas de avaliar as mudanças sociais:
O darwinismo social, além de justificar o colonialismo da Europa no resto do mundo, refletia o grande otimismo com que o progresso material da industrialização era recebido pelo europeu.
Entretanto, apesar desse otimismo em relação ao caráter apto e evoluído da sociedade européia, o desenvolvimento industrial gerava a todo momento novos conflitos sociais. Os empobrecidos e explorados - camponeses e operários - organizavam-se exigindo mudanças políticas e econômicas. Os primeiros pensadores sociais positivistas responderam com as idéias de ordem e progresso.
Haveria, então, dois tipos característicos de movimento na sociedade. Um levaria à evolução transformando as sociedades, segundo a lei universal, da mais simples à mais complexa, da menos avançada à mais evoluída. Outro procuraria ajustar todos os indivíduos às condições estabelecidas, garantindo o melhor funcionamento da sociedade, o bem comum e os anseios da maioria da população. Esses dois movimentos revelariam ser a ordem o princípio que rege as transformações sociais, princípio necessário para a evolução social ou o progresso. Essa ordem implicaria o ajustamento e a integração dos componentes da sociedade a um objetivo comum.
Os movimentos reivindicatórios, os conflitos, as revoltas deveriam ser contidos sempre que pusessem em risco a ordem estabelecida ou o funcionamento da sociedade, ou ainda quando inibissem o progresso.
Auguste Comte identificou na sociedade esses dois movimentos vitais: chamou de dinâmico o que representava a passagem para formas mais complexas de existência, como a industrialização; e de estático o responsável pela preservação dos elementos permanentes de toda organização social. As instituições que mantêm a coesão e garantem o funcionamento da sociedade, por exemplo, família, religião, propriedade, linguagem, direito etc. seriam responsáveis pelo movimento estático da sociedade. Comte relacionava os dois movimentos vitais de modo a privilegiar o estático sobre o dinâmico, a conservação sobre a mudança. Isso significava que, para ele, o progresso deveria aperfeiçoar os elementos da ordem e não destruí-los.
Assim se justificava a intervenção na sociedade sempre que fosse necessário assegurar a ordem ou promover o progresso. A existência da sociedade burguesa industrial era defendida tanto em face dos movimentos reivindicativos que aconteciam em seu próprio interior quanto em face da resistência das sociedades agrárias e pré-mercantis em aceitar o modelo industrial e urbano
Organicismo:
Outra escola que se desenvolveu no rastro das conquistas das ciências biológicas e naturais e da teoria evolucionista de Charles Darwin foi o organicismo, que teve como seguidores cientistas que procuraram aplicar seus princípios na explicação da vida social.
Um deles foi o alemão Albert Schäffle, que se dedicou ao estudo dos "tecidos sociais", conceito com o qual identificava as diferentes sociedades existentes, numa nítida alusão à biologia. Ninguém, entretanto, se destacou como Herbert Spencer, filósofo inglês que procurou estudar a evolução da espécie humana de acordo com leis que explicariam o desenvolvimento de todos os seres vivos, entre os quais o homem. Seu seguidor, o francês Alfred Espinas, afirma que os princípios da biologia são aplicáveis a todo ser vivo, razão pela qual propõe uma "ciência da sociedade", cujas leis estariam expressas na vida comunitária de todos os seres vivos, desde as espécies mais simples até o homem.
Da filosofia social à sociologia:
O positivismo foi o pensamento que glorificou a sociedade européia do século XIX, em franca expansão. Procurava resolver os conflitos sociais por meio da exaltação à coesão, à harmonia natural entre os indivíduos, ao bem-estar do todo social.
Por mais evidentes que sejam hoje os limites, interesses, ideologias e preconceitos inscritos nos estudos positivistas da sociedade, por mais que eles tenham servido como lemas de uma ação política conservadora, como justificativa para as relações desiguais entre sociedades, é preciso lembrar que eles representaram um esforço concreto de análise científica da sociedade.
A simples postura de que a vida em sociedade era passível de estudo e compreensão; que o homem possuía - além de seu corpo e sentimentos - uma natureza social; que as emoções, os desejos e as formas de vida derivavam de contingências históricas e sociais -, tudo isso foram descobertas de grande importância.
Diante desses estudos, devemos não perder a perspectiva crítica, mas entendê-los como as primeiras formulações objetivas sobre a sociabilidade humana. Apenas o fato de que tais formulações não vinham expressas num livro religioso nem se justificavam por inspiração divina é suficiente para merecerem nossa atenção. Foram teorias que abriram as portas para uma nova concepção da realidade social com suas especificidades e regras.
Quase todos os países europeus economicamente desenvolvidos conheceram o positivismo. No entanto, foi na França, por excelência, que floresceu essa escola, a qual, partindo de uma interpretação original do legado de Descartes e dos enciclopedistas, buscava na razão e na experimentação seus horizontes teóricos.
Entre os filósofos sociais franceses, pode-se destacar Hipolite Taine, cujas idéias sofreram menor influência de Comte. Formulou uma concepção da realidade histórica como determinada por três forças primordiais: a "raça", que constituiria o fundamento biológico; o "meio", que incluiria aspectos físicos e sociais; e o "momento", que se constitui no resultado das sucessões históricas. Outra figura relevante é Gustave Le Bon, médico e arqueólogo, contemporâneo de Taine, autor de pioneira e controvertida obra sobre a "psicologia das multidões", na qual reflete sobre as crenças sociais mais gerais formadoras da "mentalidade coletiva" e sua ação em indivíduos agrupados em multidão. Pierre Le Play, outro destes filósofos sociais, tinha uma perspectiva naturalista bem acentuada, havendo concentrado seus esforços na busca da “menor unidade social”, comparável ao átomo da física ou às células da biologia. Le Play estabeleceu a família como essa unidade básica e universal, postulando que as relações sociais seriam decorrência das relações familiares, em grau variável de complexidade. Temos ainda o inglês Herbert Spencer, que muito contribuiu com suas reflexões na linha do evolucionismo e do organicismo.
A maioria dos primeiros pensadores sociais positivistas permanece presa por uma reflexão de natureza filosófica sobre a história e a ação humanas. Procedimentos de natureza científica, análise sociológicas baseadas em fatos observados com maior critério só serão introduzidos por Émile Durkheim e seu grupo.